Uma breve história da educação dos cegos no Brasil e a constante luta contra a “invisibilização” social

A brief history of the education of the blind in Brazil and the constant struggle against social 'invisibilization'

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33362/juridico.v14i2.3953

Resumo

Este texto é resultado de uma investigação sobre as representações sociais que envolvem o papel dos cegos no seio social hodierno. Há aproximadamente 500 anos atrás, Juan Luiz Vives ponderou que ninguém é tão deficiente que nada possa fazer. No entanto, o tempo e a reduzida sensibilidade provocada por uma suposta empatia social, produziu um distanciamento da ideia proposta pelo pensador humanista. Quanto aos cegos, ainda mais evidente se fez um processo de invisibilização, um exemplo que endossa essa afirmação é o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, fundado em 1854, no Rio de Janeiro. Tudo começou com José Alvares de Azevedo, cego que se qualificou e propôs a criação de uma escola especializada. No entanto, como a história nos mostra, o homenageado foi Benjamin Constant, que não era cego, mas recebeu a honraria de ter o Instituto rebatizado com seu próprio nome. Ao que se seguiu, na construção nacional de ensino especializado para os cegos, percebe-se que sempre houve segregações de funções a depender do gênero dos educandos, denotando o quão forte e concretizador de papeis sociais a cultura vigente da época demonstrava ser. No entanto, Dorina Gouvêa Nowill, conforme o título de um dos seus livros “Eu venci a si mesmo”, mostra que é possível que cada pessoa cega seja autora de sua própria vida, ainda que todos digam qual é o lugar que essas pessoas “devem ocupar”, já que quem não pode ver a beleza da vida é rotulado a se submeter a um jugo peremptório de invisibilização. Além disso, é salutar destacar que este trabalho adotou a metodologia de pesquisa bibliográfica com viés interpretativo-dedutivo.

Palavras-chave: Cego. Invisível. Educação. Representatividade. Capacidade.

 

ABSTRACT: This text is the result of an investigation into the social representations that involve the role of the blind in today's society. Approximately 500 years ago, Juan Luiz Vives considered that no one is so disabled that they can do nothing. However, time and the reduced sensitivity caused by supposed social empathy have led to a distancing from the idea proposed by the humanist thinker. As for the blind, a process of invisibility is even more evident; an example that supports this statement is the Imperial Institute for Blind Children, founded in 1854 in Rio de Janeiro. It all started with José Alvares de Azevedo, a blind man who qualified and proposed the creation of a specialized school. However, as history shows us, the person honored was Benjamin Constant, who was not blind, but received the honor of having the Institute renamed after him. In the following, in the national construction of specialized education for the blind, it is clear that there has always been segregation of functions depending on the gender of the students, denoting how strong and concretizing of social roles the prevailing culture of the time proved to be. However, Dorina Gouvêa Nowill, according to the title of one of her books “I overcame myself”, shows that it is possible for each blind person to be the author of his or her own life, even if everyone says what place these people “should occupy”, since those who cannot see the beauty of life are labeled to submit to a peremptory yoke of invisibility. In addition, it is worth highlighting that this work adopted the methodology of bibliographic research with an interpretative-deductive bias.

Keywords: Blind. Invisible. Education. Representation. Capacity.

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Biografia do Autor

Júnior Correa de Mello, Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP)

Mestre em Desenvolvimento e Sociedade (UNIARP)

Líncon Bordignon Somensi, Universidade do Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP)

Doutor em Ciências Farmacêuticas (UNIVALI)

Joel Cezar Bonin, Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)

Doutor em Filosofia (PUC-PR)

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Publicado

2025-12-16

Como Citar

CORREA DE MELLO, Júnior; BORDIGNON SOMENSI, Líncon; CEZAR BONIN, Joel. Uma breve história da educação dos cegos no Brasil e a constante luta contra a “invisibilização” social: A brief history of the education of the blind in Brazil and the constant struggle against social ’invisibilization’. Ponto de Vista Jurídico, Caçador (SC), Brasil, v. 14, n. 2, p. e3953-e3953, 2025. DOI: 10.33362/juridico.v14i2.3953. Disponível em: https://periodicos.uniarp.edu.br/index.php/juridico/article/view/3953. Acesso em: 17 dez. 2025.

Edição

Seção

Dossiê Temático 10 anos da LBI